Aos três meses, o pequeno Maurício
José Luz foi diagnosticado com uma doença renal crônica. Pouco tempo depois,
com Hiperoxalúria Primária Tipo I, um problema metabólico raro. Para
sobreviver, o menino precisaria de dois transplantes: um do rim e outro do fígado.
E foi em uma amiga de faculdade da mãe da criança, que a família encontrou
parte da esperança que precisava.
O
primeiro a se dispor a doar parte do fígado foi o meu irmão, Elbert, mas o
primeiro balde de água congelante. Não deu certo! No final, nosso anjo foi a
Éllen Maria. Ela trouxe a esperança para toda uma família. Dias melhores
viriam", contou Érika Luz, mãe de Mauricio.
Ao g1, a dentista Érika Luz contou que o menino nasceu
prematuro, após 35 semanas de gestação, no dia 10 de julho de 2018. No entanto,
não precisou ficar internado e levava uma vida aparentemente normal até os dois
meses.
“Tudo ia correndo bem até que, aos dois meses, ele ficou muito
irritado. Tudo que ele mamava, vomitava. Não conseguia dormir direito e, uma
semana depois que ele completou três meses, teve uma convulsão. A causa,
ninguém sabia, os dias passavam lentamente, o desespero tomou conta”, relatou a
mãe.
Ainda em 2018, com apenas três meses,
Maurício foi hospitalizado e diagnosticado com uma doença renal crônica. Para o
tratamento com hemodiálise, a família teve que viajar, e posteriormente morar
em São Paulo.
Na cidade paulistana, o laudo final saiu e a família soube o
nome da doença de Maurício: Hiperoxalúria primária tipo
I. Isso significou que além do transplante de rim seria necessário
também o de fígado. Infelizmente, os pais do menino não tinham o tipo sanguíneo
compatível e tiveram que esperar por um doador.
Muitos amigos da família tentaram fazer a
doação ao bebê. Segundo a mãe, os exames que eram exigidos aos possíveis
doadores mostravam taxas alteradas ou exames incompatíveis com o paciente.
Em novembro de 2019, a busca por um
doador finalmente cessou. Érika encontrou esperança através de sua amiga da
faculdade, a doadora em potencial era a professora Éllen Maria. Com todos os
exames certos e saudáveis, ela viajou até São Paulo para dar início ao
procedimento que duraria nove meses.
"Marcaram
a cirurgia para março de 2020, mas aí veio a pandemia da Covid-19 e as cirurgias
eletivas foram suspensas. Só no dia 31 de agosto deu certo e a Éllen doou um
pedaço do seu próprio fígado para o Maurício", explicou Érika.
Depois de pouco mais de um mês de um
pós operatório difícil, principalmente para uma criança que ainda tinha que
fazer hemodiálise, ele teve alta. Então se iniciou outra espera. Agora seria
diferente, o doador do rim que Maurício precisava pelo tamanho, deveria vir de
um ser não vivo. Dessa vez não tinha data marcada, seria na
hora e no dia do "sim" de uma família diante de um momento de dor.
A felicidade da família Luz se
completou em janeiro de 2021. O pai de Maurício, Luiz Paião, recebeu a noticia
de que havia um rim de um doador falecido para o pequeno.
"No dia 9 de janeiro
de 2021, no final de uma sessão de hemodiálise, a equipe médica entrou no
quarto onde eu e o Maurício estávamos. Eu me lembro que cheguei a brincar
assim: ' tá trazendo o rim do Maurício?' e a enfermeira falou: 'sim, é
exatamente isso que a gente veio conversar com você'", contou emocionado o
pai.
Maurício estava na
prioridade na fila do transplante por já ser um paciente transplantado e
imunossupressor, então quando uma família resolveu doar os órgãos de seu filho
falecido de 14 anos, Maurício ganhou um novo rim.
"Eu
acho que nunca vai haver palavra, frase ou texto para agradecer o amor pelas
doações que o Maurício recebeu. Como esse ato é inexplicável! É puro e
verdadeiro amor! É empatia plena! E daqui, é gratidão para sempre. Hoje o
Maurício pode tomar seu banho à vontade, beber água à vontade, ir e vir. É uma
liberdade pelas pequenas coisas. Hoje o Maurício cresce, desenvolve a saltos
longos. É estado de graça”, afirmou a mãe.
Setembro Verde
Durante todo o mês de setembro, o
Ministério da Saúde realiza ações para conscientizar sobre a importância da
doação de órgãos. O "Setembro Verde" lembra que, no Brasil, cerca de
33 mil pessoas aguardam transplante, segundo a Associação Brasileira de Transplante
de Órgãos (ABTO).
A fila nacional de
transplantes é grande, comparado ao nível de doação, que continua baixo. Apenas
32% de potenciais transplantes foram realizados, porque quase 70% das pessoas
negaram a possibilidade de doação de órgãos de familiares com morte encefálica.
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