Quem tem poder real sobre os destinos
do Brasil pregou e prega a mentira criminosa de que há fome neste país porque
aqui é lugar de gente preguiçosa, carnavalesca e cachaceira.
A cereja desse bolo de
empulhação ideológica da dominação, que vige, vem contida nesta na condenação:
o povo brasileiro é propenso à corrupção, vadiagem e que nunca lutou –
“derramou sangue” – para viver num Brasil de liberdade, independente. Os que
assim pensam, nunca param de agir para “provar” sua própria acusação.
Vejam-se a tristemente marcante notícia: semana que passou, chegou ao fim, uma política estatal que muito significado tem no enfrentamento da fome de considerável parcela da população brasileira: o Bolsa Família.
Marca das gestões/coalizões
lideradas pelo Partido dos Trabalhadores, referida política, comprovadamente,
levou à inclusão de milhões de pessoas numa dieta alimentar diária mínima.
Articulado com diversos outros programas com vistas à mitigação da pobreza
humilhante, o Bolsa levou à inclusão de milhões de brasileiros. Tudo provado.
Um ensaio impactante de inclusão social que a civilização mediana
reconhece.
Inclusão? De fato, inclusão
econômica, porque o agir sobre o eco é, antes de tudo, ato de sobrevivência na
Natureza, e o consumir se reveste de caráter social. Inclusão humanitária,
porque uma política intencionada em suprimir historicamente a fome e as
exclusões decorrentes desse estado de ser, aliás, de não-ser. Uma política que
enfrentou a dura batalha contra os liberais mercadistas que acusam o povo
trabalhador de querer viver na preguiça e vagabundagem. Povo que, no limite –
aspiram –, ache logo uma bala em sua periferia e que o liquide.
O fim do Bolsa Família é a
realização socialmente mais infame do governo produzido pelo golpe de Estado
que derrubou do poder federal o PT e seus aliados, reais, e circunstanciais. O
regime neoliberal, que chega ao poder com o golpe, tem, tal um prêmio a si
mesmo, a destruição dessa política-símbolo contra a miséria social extrema.
Há, no Ocidente, nestes
séculos ditos da modernidade, uma fração dos chamados “liberais” que, por
cálculo no jogo do poder, até aceitam ações de Estado com vistas à promoção
social de excluídos criados pela dinâmica do sistema do Capital, que se move
pela acumulação da riqueza em mãos de poucos. No Brasil, os jogadores do poder
real, são, pelas vísceras, inimigos de excluídos econômicos e políticos; são
dominados por uma saudade doentia do tempo do cativeiro e se comprazem com
sangue se derramando em lombo de pobre.
O regime bolsomorol agora
triunfante, em suas abjeções, só pensa em morte – e assim a fome os farta. Seus
régulos, sacripantas contra o arcabouço de Sociedade nacional arranjado em
cinco séculos de saque colonizador. Pensam e querem morte; querem ditadura como
força para impor seu pensar e querer; celebram seu projeto com a abominação
fuher-nazística; movem-se em prol da revivescência de taras de antigas e novas
“cruzadas”.
Brasil, nos estilhaços do
golpe em pleno curso, o mais vistoso paraíso do tal “trumpismo”, aqui,
conseguindo nutrir sua versão mais debochada. E com repercussões culturais
intensas. Regime que quer a ditadura a qualquer custo.
Mas é tão grave assim? É.
Na própria semana do fim do Bolsa Família, num inquérito parlamentar – ainda
que cheio de contradições e vacilos –, restou evidências de que é crime contra
a humanidade o boicote federal às medidas que a ciência prescreveu para
combater a Covid. Outro sinal da gravidade do golpe continuado: o TSE
formalizou o estupro eleitoral de 2018. Reconheceu o crime que levou ao poder o
regime da morte e disse que somente em 2002 esses crimes serão considerados
crimes. Sim, a versão daqui é debochada. Também é a semana em que um banqueiro
indecente fobou: taxa de juros quem diz qual é sou eu. Falou por todos de seu
comitê.
Semana em que a carestia –
inflação – das coisas mínimas que pobre precisa comprar. Semana em que o
“palhaço cívico da nação” envergonha o Brasil sério no exterior. Diga-se que
“palhaço” melhor pegaria a Jânio. Do militano, adequado dizer que “ferrão
cívico dos amorais” mercadeiros.
Fonte: Piauí Hoje
Fonseca Neto, historiador,
da APL.
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