O número de crianças e adolescentes fora da escola aumentou 171% durante a pandemia, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao todo, 244 mil meninos e meninas de 6 a 14 anos não estavam matriculados no segundo trimestre de 2021, cerca de 154 mil a mais que em 2019.
Dados divulgados pelo Censo Escolar do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam que o número de
matrículas de crianças entre 6 e 10 anos diminuiu entre os anos de 2019 e 2020.
Em 2019, foram realizadas 13.995.683 matrículas. Já em 2020, o número caiu para
13.907.329. O mesmo ocorreu nas matrículas de 11 a 14 anos, com uma queda de
11.597.937 para 11.495.650 no mesmo período.
A professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília
(UnB), Catarina de Almeida, explica como a pandemia evidenciou a importância da
escola para grande parte dos alunos.
“Para grande parte dos estudantes, a escola tem mais importância
ainda. Esses estudantes dependem da escola para ter professor ensinando. As
residências não apresentam locais adequados para estudar. Eles dependem da
escola para ter proteção. Dependem da escola para ter alimentação. Se a escola
é o espaço em que essas condições são dadas, quando a pandemia vem, os
estudantes ficam sem tudo isso.”
Segundo Catarina, além da dependência da infraestrutura da escola,
o brasileiro não tem a cultura do ensino remoto, o que requer certa autonomia
do estudante para estudar. “Então isso fez com que muitos estudantes se
afastassem da escola”.
“A pandemia trouxe também condições de mais vulnerabilidade.
Muitas famílias perderam renda, ficaram sem renda, sem trabalho. Muitas
crianças entraram em trabalho infantil, que significa ir para as ruas pedir,
ser explorado de todas as formas. Isso traz condições de violência nos espaços
em que estão vivendo, sem ter a proteção da escola. Então esses elementos todos
vão favorecer a evasão da escola”, acrescenta.
Disque 100 - Brasil na Escola
Para combater o abandono e a evasão escolar, o Ministério da
Educação (MEC) convida as famílias e toda a população para participar da
campanha Disque 100 - Brasil na Escola. Desde o dia 28 de março, o telefone
está disponível para receber ligações que informem sobre crianças e
adolescentes não matriculados na rede de ensino ou que estejam sem frequentar a
escola.
Segundo o secretário adjunto de Educação Básica do Ministério da
Educação Helber Ricardo Vieira a campanha é uma parceria da pasta com o
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) e tem “o
objetivo de engajar toda a sociedade em um processo ativo de busca daquelas
crianças que estão indevidamente fora da escola.”
As ligações pelo Disque 100 podem ser feitas de todo o Brasil,
gratuitamente, de qualquer telefone fixo ou celular, 24 horas por dia,
inclusive aos sábados, domingos e feriados. Basta discar 100.
“O Disque 100 é um canal que foi colocado no ar, onde qualquer
cidadão brasileiro vai poder ligar para notificar, trazer ao conhecimento das
autoridades situações em que percebe-se que uma criança não está tendo o seu
direito à educação contemplado por estar fora da escola. Uma vez que o cidadão
disca para esse número, ele realiza a sua notificação e essa notificação é
passada por uma rede de contatos de instituições do estado, como conselhos
tutelares, por exemplo, onde nós faremos um monitoramento. Primeiro a situação
é verificada e se há realmente uma situação de ausência do direito por parte da
criança, nós asseguraremos que ela se reengaje na rede escolar”, explica o
secretário.
Helber Ricardo Vieira destaca os que a Constituição Federal
assegura que o direito à educação é um dever do Estado, da família e de toda a
sociedade.
“Há diversos relatos científicos que demonstram que a participação
da família aumenta a probabilidade de aprendizagem das crianças. E nesse
momento, nós estamos chamando famílias e toda a sociedade para nos engajarmos
em uma estratégia realmente nacional de recuperação das aprendizagens da
pandemia. Agora, essa recuperação das aprendizagens começa com o retorno das
crianças na escola, com a sua permanência e com as aprendizagens ocorrendo.”
A professora Catarina de Almeida afirma que é preciso ir muito
além da denúncia para ajudar os estudantes que estão fora da escola.
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