Covid: Saúde liberar 4ª dose de vacina para pessoas acima
de 40 anos.
O Ministério da Saúde vai
anunciar na próxima semana a ampliação da quarta dose da vacina contra a Covid
(ou a segunda dose de reforço) a pessoas a partir de 40 anos de idade.
A medida foi
discutida nesta quinta (16) em reunião do PNI (Programa Nacional de
Imunizações), e uma nota técnica sobre a ampliação deve ser publicada a partir
da próxima segunda (20).
A segunda dose
de reforço tinha sido liberada para a população acima dos 50 anos no último dia
4. Assim como ocorreu nas outras faixas etárias, a quarta dose só pode ser
aplicada no mínimo quatro meses após a terceira.
Alguns locais,
como o Distrito Federal, Teresina e Belém, já começaram a aplicação da quarta
dose antes mesmo da recomendação do ministério. Os estados e municípios não são
obrigados a seguir as recomendações do governo federal e podem elaborar regras
próprias para o combate à pandemia, como reforçou o STF (Supremo Tribunal
Federal) em decisão de 2020.
Na avaliação de
Renato Kfouri, diretor da SBIn (Sociedade Brasileira de Imunizações) e que
compõe a câmara técnica que assessora o PNI, a ampliação para a faixa dos 40
anos é uma tendência.
"Tem mais
comorbidades nessa faixa etária. É melhor do que ficar mandando liberar para os
diabéticos, para os cardiopatas, então já libera para todo mundo acima dos 40
anos. É um momento que tem vacina. [A imunização] Vai ser com [a vacina da]
Astrazeneca em especial, mas ainda tem Janssen e um pouco de Pfizer. Vamos ver
se a gente acelera a cobertura vacinal."
Para ele, ainda
que os benefícios da quarta dose aos adultos jovens não sejam tão claros, há
dados mostrando que atual proteção vacinal se sustenta por pouco tempo.
"Como o país enfrenta uma nova onda de casos, vale a pena. Não é [uma
medida] equivocada não."
A
epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito
Santo, também defende a medida. "Com o aumento dos subtipos da ômicron
BA.4 e BA.5 e com essa diminuição de tempo para reinfecção que a variante provoca,
é uma medida muito interessante, até porque estamos com vacina em
estoque", diz ela.
"Temos
vacina para vencer, então é melhor vacina no braço. Infelizmente não temos
campanha por parte do governo federal. É importante a proteção para esse grupo
também."
Conforme
revelou o jornal Folha de S.Paulo, o Ministério da Saúde pode perder até o fim
de agosto quase 28 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 compradas a R$
1,23 bilhão caso os imunizantes não sejam aplicados até lá.
Os lotes se
acumulam no momento em que a cobertura está estagnada e o governo Jair
Bolsonaro (PL) trata com desdém a perda de fôlego da campanha de vacinação.
São ao menos 26
milhões de unidades da Astrazeneca e 1,92 milhão de doses da Pfizer que perdem
a validade nos próximos dois meses (11,72 milhões e 16,35 milhões vencem,
respectivamente, em julho e agosto).
O
infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz, vê a ampliação da quarta
dose para os acima de 40 anos com ressalvas. Segundo ele, após a terceira dose,
os dados mostram que há evidências de ganho de resposta imune importante em
comparação à segunda dose. Mas o mesmo não ocorre em relação à quarta dose.
"Essa
população de adultos jovens, até 50 anos, tem menor risco de hospitalização e
de óbito. Com três doses de vacina, já tem uma excelente proteção."
Ainda que
exista uma discussão importante sobre a queda da proteção vacinal ao longo do
tempo, especialmente entre os idosos, ainda não há uma resposta definitiva qual
seria o melhor momento para vacinar esse público de adultos jovens.
"Existem
dúvidas do ponto de vista científico se é importante reduzir a faixa etária
para 40 anos porque o ganho pode se bem pequeno em relação à hospitalização e
óbito."
Ao mesmo tempo,
Croda lembra que as coberturas vacinais de terceira dose estão extremamente
baixas entre os adultos jovens, em torno de 50%.
"Precisamos
melhorar essa cobertura de terceira dose. É isso que vai gerar proteção para
hospitalização e óbito. Toda população acima de 12 anos tem que tomar três
doses de vacina", diz.
Ele afirma que
a quarta dose é extremamente relevante para os idosos acima de 60 anos, porém,
as coberturas também não estão adequadas.
"Não
podemos desviar o foco. Os Estados Unidos fizeram isso. Começaram a recomendar
várias doses de reforço e tem um público com baixas coberturas de terceira
dose. Isso é bem complicado. Não podemos passar a mensagem de 'quem quiser
vacinar, se vacine com quantas doses quiser'. Para evitar colapso, é importante
ter elevadas coberturas."
O Brasil
enfrenta, atualmente, um quadro de elevação no número de casos e de mortes
associadas à Covid. O índice de óbitos ainda é baixo se comparado aos períodos
críticos da pandemia, mas a média móvel de mortes está em alta há uma semana.
Dados do
consórcio de veículos de imprensa desta quarta (15) mostram que 167.151.998
brasileiros (77,81% da população total) estão totalmente imunizados ao tomar a
segunda dose ou a dose única de vacinas. A dose de reforço, no entanto, foi
aplicada em apenas 45,35% da população (97.427.596 pessoas).
Segundo Croda,
o sistema de saúde sabe quem tomou e quem não tomou duas ou, eventualmente,
três doses da vacina e deveria criar estratégias para ir atrás de quem ainda
não está imunizado. "Tem endereço, tem telefone. É função dos municípios
trabalharem essa busca ativa. E dos governos federal e estadual fazerem
campanhas."
A
epidemiologista Ethel Maciel também reforça a importância de se avançar na
busca de vacinas modeladas para a variante ômicron, que garantam um tempo de
proteção maior. "As empresas já anunciaram que estão fazendo, mas ainda
não temos."
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