Um
homem com síndrome de Down morreu na última sexta-feira (10/03) após ter
recebido alta da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Setor O, em
Ceilândia, no Distrito Federal. Imagens gravadas por outros pacientes que
estavam no local mostram Warlley Eduardo, de 30 anos, agonizando no chão do
estabelecimento, sem receber atendimento. Segundo relatos, ele teria ficado
cerca de 3 horas passando mal. Em nota, o Instituto de Gestão Estratégica
de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) informou que abriu investigação interna
relacionada ao atendimento do paciente. As informações são do R7.
A mãe de Warlley, Maria de
Lourdes Pires, afirma que houve negligência por parte dos agentes de saúde.
Segundo ela, o filho deu entrada na UPA em 9 de março, com um quadro de
convulsão e febre.
Maria de Lourdes conta que o filho
tomou medicação e, após realizar um exame de sangue, eles foram instruídos a retornar
outro dia para continuar a medicação. No entanto, ao perceber que Warlley não
estava bem, ela disse que continuaria no local.
A mãe afirma que, momentos depois, o
filho começou a se debater no chão da unidade e não recebeu nenhum atendimento.
O momento foi registrado por outros pacientes e compartilhado nas redes
sociais. Alguns profissionais de saúde apareceram para comentar o quadro de
Warlley. No entanto, o jovem continuou deitado no chão, sem ser atendido.
Ainda de acordo com Maria de Lourdes,
depois de continuar insistindo para que o filho fosse atendido, ele foi levado
para a sala verde, para ficar em observação por 24 horas. No local, Warlley
teve outra crise e foi socorrido por uma enfermeira.
O rapaz, então, foi levado à sala
vermelha acompanhado de um médico e teve uma parada cardiorrespiratória. Devido
à gravidade do caso, o paciente foi transferido para a Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) do Hospital Regional de Samambaia na noite de quinta-feira
(09/03).
Na madrugada de sexta-feira (10/03),
por volta das 6h, a família foi informada de que Warlley havia morrido. A Secretaria
de Saúde informou que o paciente chegou ao hospital com suspeita de morte
encefálica e foi rapidamente atendido na UTI devido à gravidade do seu quadro
clínico. Ele foi admitido às 5h e veio a óbito às 5h48.
A família registou um boletim de
ocorrência na Polícia Civil. O caso é investigado pela 26ª Delegacia de
Polícia, em Samambaia Norte.
O que diz o Iges-DF
Em nota, o Iges-DF informou que o
paciente deu entrada na UPA de Ceilândia às 8h50 de quinta-feira (09/03) devido
a um quadro de convulsão e febre no dia anterior. Ele teria sido avaliado,
classificado como gravidade laranja às 8h54 e atendido pelo médico da unidade
às 9h03. “Foram realizados exames laboratoriais e raio-X e foi iniciado
antibiótico venoso. O paciente evoluiu com agitação psicomotora, e foi
administrado medicamento conforme quadro clínico apresentado”, explica a nota.
Por volta das 14h10, o paciente teria
evoluído com rebaixamento do nível de consciência e foi encaminhado para a sala
vermelha para melhor avaliação dos sinais vitais e exames laboratoriais. De
acordo com o Iges-DF, o paciente teve uma parada cardiorrespiratória às 14h20 e
foi necessário fazer reanimação e intubação. Após 30 minutos, os sinais vitais
de Warlley foram restabelecidos, e ele foi submetido a medicamentos.
“Ele apresentou nova parada
cardiorrespiratória e novamente foi restabelecida circulação central. Ele foi
prontamente inserido em leito de regulação, com solicitação de leito de UTI. O
leito foi disponibilizado no Hospital de Samambaia, e o paciente foi
transferido às 23h45 do mesmo dia”, afirma a nota.
Nota de repúdio
A Associação de síndrome de Down
emitiu uma nota de repúdio contra o ocorrido e disse que acompanhará a família
durante o processo. Veja a nota abaixo:
“A Associação DF Down vem por meio
desta nota manifestar o seu mais absurdo repúdio à conduta, comissiva ou
omissiva, de servidores da Secretaria de Saúde do DF em exercício na Unidade de
Pronto Atendimento do Setor O (Ceilândia) que resultou na morte de Warlley
Eduardo Pires Cordeiro da Silva, um jovem de 30 anos com síndrome de Down.
Warley ingressou consciente na UPA,
acompanhado de sua mãe, Maria de Lourdes Pires, e de lá saiu, ao que tudo
indica, sem vida, após agonizar no chão da unidade. A imagem e depoimentos aos
quais integrantes e diretoria da Associação tiveram acesso dão indícios de
negligência e capacitismo inadmissíveis, sobretudo em se tratando de
profissionais da saúde dos quadros da administração pública.
A vida de um homem de 30 anos, que
estudava no Cee 01, de Taguatinga, e participava da banda, que era filho, irmão
e amigo, foi perdida em razão de evidente descaso, imperícia e preconceito.
Em nome das pessoas com síndrome de Down e suas famílias, em especial a de Warlley, exigimos que as autoridades competentes da esfera distrital e federal investiguem as circunstâncias que culminaram em seu falecimento e punam os responsáveis no âmbito criminal, civil e administrativo com a dedicação e o profissionalismo que a ele foram negados e que poderiam ter lhe salvado a vida.”
FONTE: 180GRAUS
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